Mãe que denunciou pediatra por abuso afirma que não contou à filha para evitar trauma
Uma das mães que denunciaram o pediatra Fernando Cunha Lima, suspeito de uma série de estupros de crianças em João Pessoa, afirmou que não contou para a filha sobre o abuso por medo de traumatizá-la. Em entrevista à TV Cabo Branco, a mãe relatou que há 11 anos, o médico abusou da menina enquanto auscultava o pulmão da criança, que na época tinha apenas 4 anos.
“Eu não contei porque hoje minha filha poderia estar traumatizada. Eu nem contei, nem vou contar. Eu guardo isso comigo. Eu quero justiça como mãe. Eu não ia fazer esse trauma com ela”, afirmou a mulher em entrevista à TV Cabo Branco.
A mãe prestou depoimento à Polícia Civil no dia 7 de agosto. Nesta terça-feira (8), a delegada Isabel Costa confirmou que inquérito que investigava o pediatra foi concluído, mas não deu detalhes sobre o resultado. Segundo ela, mais informações serão divulgadas na manhã desta quarta-feira (14), em uma coletiva de imprensa.
Ainda segundo o relato da mãe, ela levava a menina desde bebê para consultas com o médico Fernando Cunha Lima.
“Ele pôs o braço por cima dela, e auscultou. Eu estava achando aquela situação estranha. E ele estava usando o cotovelo na parte íntima da minha filha. Na mesma hora, eu interrompi e falei que ela estava desconfortável”, afirmou a mãe da vítima em entrevista à TV Cabo Branco.
A mãe descobriu as denúncias contra o médico através das redes sociais e afirma que, antes mesmo da identidade do pediatra ser divulgada, já suspeitava que se tratava de Fernando Cunha Lima.
“Eu tinha certeza que era ele porque isso aconteceu comigo, aconteceu com a minha filha pequena, ela nem sabe. Eu guardei isso comigo o tempo todo. Eu fui à Delegacia da Criança e fiz o boletim de ocorrência. Eu desejo justiça. Eu espero que mais vítimas tenham coragem de denunciar esse homem”, afirmou a mãe.
Suspeito presta depoimento
O médico pediatra Fernando Paredes Cunha Lima prestou depoimento nesta sexta-feira (9), na Delegacia de Repressão aos Crimes contra Infância e Juventude. O médico foi ouvido pela Polícia Civil após faltar a dois depoimentos alegando problemas de saúde.
A delegada Isabel Costa afirmou que o médico contou sua versão dos fatos e não se manteve em silêncio durante o depoimento. Ainda segunda ela, o inquérito será finalizado até o final da próxima semana, mas não deu detalhes sobre as investigações por ser um processo em segredo de justiça.
Na saída da delegacia, o médico afirmou à imprensa que não comentaria a investigação. O advogado que acompanhou Fernando Cunha Lima afirmou que entrou no caso recentemente e havia pedido habilitação para ter acesso aos documentos do processo. Na quinta-feira (8), a defesa do pediatra emitiu uma nota declarando que o médico é inocente e que está sendo “acusado injustamente”.
O pedido de prisão preventiva
A Polícia Civil pediu, nesta quinta-feira (8), a prisão preventiva de Fernando Paredes Cunha Lima. O pedido deve ser analisado pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) e Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB).
A delegada Isabel Bezerra considerou os últimos acontecimentos sobre o caso, como depoimentos de mães de pacientes e familiares do pediatra que também relataram situações de abuso cometidos pelo médico.
Dois promotores de justiça do Ministério Público da Paraíba (MPPB) já se averbaram suspeitos com relação ao processo criminal contra o médico pediatra Fernando Paredes Cunha Lima, que é suspeito de cometer uma série de estupros contra meninas entre 4 e 9 anos. Assim, o processo deve ser agora redistribuído para um terceiro promotor, ainda sem definição sobre quando isso vai acontecer.
Só quando houver um parecer do MPPB é que, pelos trâmites legais, a Justiça vai decidir se acata ou rejeita o pedido de prisão preventiva, que foi encaminhada na última quinta-feira (8).
A denúncia
A primeira denúncia formal de estupro de vulnerável contra o pediatra Fernando Cunha Lima aconteceu no dia 25 de julho e foi tornada pública nesta quarta-feira (7).
A mãe da criança de 9 anos, que estava no consultório, disse em depoimento que viu o momento em que ele teria tocado as partes íntimas da criança. Ela informou que na ocasião imediatamente retirou os dois filhos do local e foi prestar queixa na Delegacia de Polícia Civil.
Com a repercussão do caso, uma sobrinha do suspeito revelou que também foi abusada quando também tinha 9 anos, na década de 90, assim como suas duas irmãs. As denúncias, assim, indicam que os crimes aconteceriam há pelo menos 33 anos, já que o relato de uma das sobrinhas fala de um estupro que teria sido cometido em 1991.
O Conselho Regional de Medicina (CRM-PB) informou nessa quarta-feira (7) que abriu uma sindicância para apurar o caso.
A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), do qual Fernando Cunha Lima era diretor, decidiu suspendê-lo e afastá-lo de suas funções diretivas.
A Sociedade Paraibana de Pediatria disse que acompanha a apuração dos fatos pela polícia e pelo CRM.